Foto: divulgação

Exposição no Museu Imperial mostra as mudanças urbanísticas e sociais de Petrópolis ao longo das décadas

Para celebrar os 180 anos de Petrópolis e os 80 anos da inauguração do Museu Imperial, o Museu Imperial e a Prefeitura Municipal de Petrópolis apresentam a nova exposição, que retrata a cidade de Petrópolis nas décadas de 1930 e 1940, contexto da criação do Museu Imperial e período de transformações e acontecimentos locais diretamente ligados a fatos ocorridos no país e no mundo.
Alessandra Fraguas, historiadora; Ana Luísa Camargo, museóloga; e Claudia Costa, coordenadora técnica, – integrantes da equipe técnica do Museu Imperial – são as responsáveis pela curadoria da mostra. Elas selecionaram diversos itens do acervo do Museu Imperial e peças cedidas por acervos particulares para reconstituir parte da história de Petrópolis, retornando a importante ocasião das comemorações do centenário da cidade, marcado pela divergência entre manter a “tradição” do período imperial ou seguir para os “tempos modernos”.
A Petrópolis do Museu Imperial permite conhecer o passado da cidade que pretendia se modernizar, mas permanecia atada ao legado do período imperial. Uma visão compreendida pela importância da preservação da memória local, englobando três importantes perspectivas: o contexto sociopolítico, as transformações urbanísticas e a vida sociocultural. Além de proporcionar uma aproximação a momentos vividos na cidade, como as articulações que resultaram na inauguração do Museu Imperial; as transições arquitetônicas; o ponto em que o turismo se torna um impulso para economia; as influências; os festejos e até as aflições sociais geradas por circunstâncias políticas.
Os cenários da exposição contarão com imagens e objetos-ícones que dialogam entre si. Por meio de peças, fotografias, exibição de documentos, recursos sonoros e audiovisuais, será possível uma viagem no tempo, possibilitando uma reflexão sobre a conjuntura da época.
“O Museu Imperial e a Prefeitura Municipal de Petrópolis renovam a parceria inaugurada nos anos 1930-1940, quando o Museu Histórico de Petrópolis foi extinto e todo o seu acervo transferido para a recém-criada instituição [Museu Imperial], refazem parte desse cenário e convidam todos os visitantes para conhecerem esses ‘tempos modernos’, suas luzes, suas lutas, suas dores, suas alegrias e suas esperanças.”, declaram as curadoras.

O contexto
Chegando ao período que Petrópolis completaria 100 anos de sua criação, bem como o projeto de construção do palácio que serviu de residência de verão da família imperial, inicia-se uma grande mobilização para as comemorações do centenário da cidade.
Em 1937, através de um ato do prefeito Yeddo Fiúza, foi criada a “Comissão do Centenário de Petrópolis”, encarregada de produzir pesquisas para resgatar a memória da cidade desde sua fundação. Nela, duas frentes eram defendidas: de um lado, intelectuais ligados ao Instituto Histórico de Petrópolis, liderados por Alcindo de Azevedo Sodré, defendendo o 16 de março como a data de criação da cidade. E, do outro, um grupo de especialistas, liderado por Antonio Joaquim de Paula Buarque, ex-prefeito, que junto à Academia Petropolitana de Letras, entendia que o 29 de junho, marco da chegada dos colonos germânicos em 1845, deveria ser escolhido como o dia das comemorações e aniversário da cidade. Os debates mantiveram a memória de d. Pedro II e o dia 16 de março foi o escolhido, observando a fundação de Petrópolis estabelecida pelo imperador por meio do Decreto Imperial n.º 155, de 16 de março de 1843.
O cenário também foi favorável para o encontro de duas trajetórias políticas: a de Alcindo Sodré, que se tornaria o primeiro diretor do Museu Imperial, e a de Getúlio Vargas, presidente da República em seu primeiro governo (1930-1945). A união resultou na compra do Palácio Imperial, na instituição do Museu Imperial e na sua abertura ao público na mesma data das comemorações do município: 16 de março de 1943.
Ainda hoje, o valioso conjunto documental consequente de todas as pesquisas produzidas pela “Comissão do Centenário de Petrópolis” – publicados em sete volumes – é uma referência sobre a história de Petrópolis.

Transformações urbanísticas e sociedade
Ao mesmo tempo que Petrópolis buscava resgatar a tradição do período imperial, um grande impulso para o que chamavam de “modernização” da cidade era iniciado. Momento de mudanças, caracterizado pela reforma urbanística que terminou com a demolição de edificações históricas e a construção de novos prédios, muitos deles representantes do auge do estilo arquitetônico Art déco, no Brasil.
A partir de 1930, surgiam os primeiros “arranha-céus” indicando o início de “Tempos Modernos” – termo utilizado como uma referência ao filme de Charlie Chaplin, estreado no Theatro D. Pedro, inaugurado em 1933, também um belo exemplar da arquitetura Art déco em Petrópolis.
Prédios altos, com traços lineares e formas geométricas despontavam nas ruas do Centro, como o edifício Centenário, localizado na rua Dezesseis de Março, inicialmente chamada rua do Centenário, inaugurada na ocasião e um símbolo das comemorações. Estima-se que, até 1947, cerca de três mil edifícios foram construídos.
A entrada da Cidade Imperial nos “Tempos Modernos” era notada na arquitetura, na propagação de produções cinematográficas, no pioneirismo de produção radiofônica e na mudança de cidade de vilegiatura da Corte para um local com o turismo como impulsionador da economia. A construção do grandioso Hotel-Cassino Quitandinha, projetado para ser o maior da América Latina, é um representante do processo.

Cenário sociopolítico
Anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, Petrópolis passava por movimentações que marcavam a situação política interna e externamente. A cidade encontrava-se notável no contexto nacional e vivenciava um grande processo de mobilização da sociedade.
Em 1935, o município portava grande número de indústrias têxteis e, consequentemente, uma numerosa classe operária que iniciava uma conscientização política. Petrópolis protagonizou uma grande greve com dimensões por toda a cidade, paralisando cerca de 20 fábricas e com a adesão de 15 mil trabalhadores. O movimento social surgiu da luta dos operários do campo democrático contra os fascismos.
No mesmo enquadramento, encontra-se a colaboração do austríaco Stefan Zweig. Em exílio no Brasil e encantado com o país e com a cidade de Petrópolis, escreveu “Brasil, País do Futuro”, de 1941, livro que enaltece o entusiasmo e a grandeza proporcionados por um povo resiliente que se constitui, em sua essência, pela diversidade.

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