Itamar Vieira Junior, Kalaf Epalanga, Luiz Antonio Simas e outros nomes da literatura e da arte protagonizaram diálogos intensos com transmissão ao vivo direto do Centro Cultural Sesc Quitandinha
Realizado nos dias 19 e 20 de julho, no Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis (RJ), o Fórum de Ideias reafirmou sua vocação como espaço de escuta, pensamento e construção coletiva sobre arte, cultura, educação e território. A edição deste ano, com o lema “No princípio, a terra”, reuniu nomes como Itamar Vieira Junior, Kalaf Epalanga, Luiz Antonio Simas, Kaê Guajajara, Castiel Vitorino, Pai Sidnei Nogueira, entre outros, com transmissão ao vivo pelo YouTube do Sesc RJ.
Logo na abertura, o escritor Itamar Vieira Junior emocionou o público ao compartilhar uma história real que inspirou seu premiado romance “Torto Arado”: a de seu Marcelino, trabalhador rural cuja trajetória o fez mergulhar nas palavras como ferramenta para compreender o vínculo profundo entre trabalhadores do campo e a terra. “As palavras que mais apareciam nas narrativas deles eram trabalho, movimento, luta, sofrimento”, disse. “A terra para muitos trabalhadores não é só patrimônio. É uma forma de existir, de narrar a própria vida.”
Ao seu lado, o escritor e liderança da Teia dos Povos Mestre Joelson Ferreira reforçou que não há como falar de terra sem falar das diásporas indígenas e da transformação da terra em mercadoria pelo colonialismo. Com forte apelo à mobilização e à solidariedade entre os povos, sua fala traçou pontes entre espiritualidade, agroecologia e justiça social. “A vida vale sempre a pena. Precisamos nos irmanar e cultivar o amor pelos seres da terra.”
A programação também foi marcada por momentos de emoção e afirmação de trajetórias. A artista Kaê Guajajara afirmou que sua existência está a serviço de semear ideias e reencantar corpos adormecidos pela lógica colonizadora. “Eu canto como feitiço. Sei que não vou colher os frutos do que estamos conversando aqui, mas quero que nossas ideias plantadas hoje possam ser colhidas amanhã”, disse.
Em linha semelhante, Camila Alves, mulher cega e doutora em psicologia social, apontou que esta foi a primeira vez em sua trajetória em que foi convidada para um evento que não tem a deficiência como eixo central. “Estar aqui é, por si só, uma virada de chave.”
Também marcaram presença o escritor e historiador Luiz Antonio Simas, que falou sobre cosmovisões negras e cultura popular carioca; os angolanos Kalaf Epalanga e Nástio Mosquito, que compartilharam impressões sobre a juventude inquieta em seu país de origem; o artista Parteum, que questionou as “verdades impostas” e propôs novas formas de escuta e percepção; e a artista plástica e psicóloga Castiel Vitorino Brasileiro, que refletiu sobre tempo, espaço e a potência da arte negra. “Se for necessário falar de arte negra no Brasil, que seja pela vida, não pela morte.”
O Fórum de Ideias também teve a participação de Pai Sidnei Nogueira, que chamou atenção para a política da ancestralidade: “Viver exige pacto com o chão que se pisa, com os que vieram antes e os que virão depois”. Já Vovó Cici de Oxalá, anciã do terreiro Ilê Axé Opô Aganjú, emocionou o público com a oralidade da tradição ao narrar uma história sobre a criação do mundo.
Com mediação da escritora e jornalista Bianca Santana, o encontro promoveu conexões entre território, espiritualidade, resistência e imaginação coletiva. A artista e ativista Daiara Tukano, que participou remotamente por conta da seca nos rios amazônicos, reforçou em sua fala a potência de “ser floresta”, de compreender-se semente, ideia que reverberou ao longo dos dois dias.
A edição de 2025 consolidou o Fórum de Ideias como uma arena potente de escuta, onde palavras e experiências se entrelaçaram para imaginar futuros possíveis, afetivos e profundamente enraizados.
A íntegra das mesas está disponível no canal do YouTube do Sesc RJ: https://www.youtube.com/sescrio.
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